quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Para inspirar o seu dia

   Poema


O poema a seguir é de Manoel Bandeira, publicado em 1993, no Rio de Janeiro. Nele, o autor se recusa a atribuir valores a beleza e a descreve como "triste", "frágil" e "incerto". Deixo aqui uma reflexão: O que é beleza? É o que a sociedade dita como beleza?



  Madrigal Melancólica

          
          "O que eu adoro em ti,
          Não é sua beleza
          A beleza, é em nós que ela existe


          A beleza é um conceito.
         E a beleza é triste.
          Não é triste em si,
          Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.


          O que eu adoro em ti,
            Não é a tua inteligência.
          Mas é o espírito sutil,
          Tão ágil, tão luminoso,
          - Ave solta no céu matinal da montanha.
        Nem é a tua ciência.
              Do coração dos homens e das coisas.


          O que eu adoro em ti,
          Não é a tua graça musical,
          Sucessiva e renovada a cada momento,
          Graça aérea como teu próprio momento.
          Graça que perturba e que satisfaz.


          O que eu adoro em ti,
          Não é a mãe que já perdi.
          Não é a irmã que já perdi.
          E meu pai.


          O que eu adoro em tua natureza,
          Não é o profundo instinto matinal
          Em teu flanco aberto como uma ferida.
          Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
          O que adoro em ti - lastima-me e consola-me!
          O que eu adoro em ti, é a vida"

Bandeira, Manoel, Madrigal Melancólico, in: Poesia Completa e Prosa / O Ritmo Dissoluto, Rio de Janeiro. Editor Nova Aguilar, 195, p.189.





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