Poema
O poema a seguir é de Manoel Bandeira, publicado em 1993, no Rio de Janeiro. Nele, o autor se recusa a atribuir valores a beleza e a descreve como "triste", "frágil" e "incerto". Deixo aqui uma reflexão: O que é beleza? É o que a sociedade dita como beleza?
Madrigal Melancólica
"O que eu adoro em ti,
Não é sua beleza
A beleza, é em nós que ela existe
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Mas é o espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência.
Do coração dos homens e das coisas.
Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como teu próprio momento.
Graça que perturba e que satisfaz.
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.
O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto matinal
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti - lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida"
Bandeira, Manoel, Madrigal Melancólico, in: Poesia Completa e Prosa / O Ritmo Dissoluto, Rio de Janeiro. Editor Nova Aguilar, 195, p.189.
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